Quem costuma andar pelos grandes centros comerciais deve ter notado que cresceu o número de imóveis com placa de aluga-se ou vende-se, fruto das mudanças econômicas e sociais que a pandemia trouxe. “Em alguns centros importantes, como Rio de Janeiro e São Paulo, a taxa de desocupação chegou a atingir o percentual de 40% em alguns períodos”, explica Marcelo Borges, diretor de condomínio e locação da Associação Brasileira das Administradoras de Imóveis – ABADI. Mas há um otimismo para o futuro: “Todavia, já temos vários sinais de recuperação com uma curva ascendente de ocupações. Atualmente no Centro do Rio de Janeiro a taxa caiu para 29%, demonstrando um clima de otimismo para este ano”.
Passado o pior período, os gestores de prédios comerciais agora encaram um novo desafio: o trabalho híbrido – um misto de presencial e home office. “Alguns segmentos realmente experimentaram os benefícios econômicos e sociais do trabalho em casa, impactando na forma de ocupação das unidades comerciais”, explica Marcelo.
João Xavier, síndico profissional e sócio diretor da ATMA Consultoria e Sindicância Imobiliária, relembra o momento tenso pelo qual o mercado passou. “A pandemia mudou toda a dinâmica de trabalho dos condomínios comerciais. Muitos passaram a trabalhar home office e os síndicos tiveram que encarar uma realidade diferente daquela que estavam acostumados, como por exemplo administrar edificações com muitas unidades vazias, pois praticamente só funcionavam as unidades voltadas para área de saúde”, lembra.
Alternativa para vencer a crise: renegociação
Muitos proprietários tiveram que achar alternativas para manter os imóveis ocupados. E uma delas foi renegociar o valor do aluguel. Para Marcelo Borges, diretor de condomínio e locação da ABADI, durante o período da pandemia os problemas foram sendo resolvidos pontualmente com cada proprietário. “Vários foram os desafios e as soluções foram sendo tratadas pontualmente, como, por exemplo, as negociações nos contratos de locação, sobretudo dos não residenciais”, explica. A mesma solução indicada por João Xavier. “Quem conseguiu renegociar o valor do aluguel teve vantagem. Melhor garantir um valor menor e se livrar da dívida mensal da taxa condominial e IPTU”, acredita.
Revitalização pode ser a saída
A reação em cadeia causada pelo isolamento social afetou também o entorno dos grandes centros comerciais. Acostumados a receberem trabalhadores todos os dias, restaurantes, cafeterias e pequenos negócios foram os que também sofreram o impacto da pandemia. Com o afrouxamento das medidas de prevenção e a volta da circulação de pessoas, como revitalizar essa área? Para Marcelo Borges, diretor de condomínio e locação da ABADI é preciso continuar pensando em novas formas de ocupar esses espaços comerciais. “O mercado já está estudando há tempo as tendências para coletar, se assim pode dizer, os frutos positivos da pandemia. A transformação de unidades comerciais em residenciais já é uma discussão que traduz esse pensamento de mudança, além da construção de prédios residenciais com espaços de coworking justamente para absorver as pessoas que estão trabalhando em home office. Ainda é prematuro fazer previsões, mas cremos num cenário positivo em médio e longo prazos”, acredita.
Para Borges quem pode ajudar a reverter esse quadro é a Administração Pública. “O Poder Público deverá exercer um importante papel neste momento. Projetos como Reviver Centro no Rio de Janeiro e em São Paulo são exemplos do esforço em conjunto para revitalização de algumas áreas, criando um ambiente de ocupação híbrida que poderá ser transformador. Para que isso ocorra, a classe empresária deve acreditar nas políticas públicas e os benefícios devem ser implementados” Já João Xavier, síndico profissional e sócio diretor da ATMA Consultoria e Sindicância Imobiliária acredita que a propaganda ainda é a melhor forma de reaquecer o mercado. “A propaganda sempre foi a alma do negócio! O caminho é ter o melhor produto ligado ao melhor preço, isso se torna atrativo ao mercado e a demanda de procura pelo imóvel cresce”, diz
Perguntados se os centros comerciais ainda seriam um atrativo, os dois especialistas são unânimes: sim. “Com certeza os centros comerciais serão sempre um atrativo, tudo é fase. Se analisar o mercado imobiliário hoje, 80% das novas construções são edificações voltadas para moradia, condomínios residências. Essas pessoas vão precisar de espaço para trabalhar, nem todos se adaptaram em trabalhar home office, e muitos não têm condições de trabalho em casa, por terem muitas distrações, e isso leva-os a trabalhar em escritórios”, explica Xavier.Marcelo acredita que a tecnologia pode ser uma saída: “Cremos numa despolarização dos centros comerciais, tendo em vista a demanda de melhor mobilidade e qualidade de vida das pessoas. A geração de microcentros comerciais poderá ser uma tendência positiva, sobretudo com o avanço das empresas de tecnologia”.