Garagens submersas, desabamento de muros, áreas comuns danificadas, águas que entram pelo telhado do prédio e escorrem pelas paredes dos apartamentos, alagam poço dos elevadores e até a portaria. Os condomínios ainda contabilizam os prejuízos causados pela chuva que começou a cair no fim da tarde de ontem. Segundo a Federação Nacional de Seguros Gerais (FenSeg), o número de indenização por eventos climáticos aumentou 60%, comparando janeiro e fevereiro do ano passado aos primeiros dois meses deste ano. Em 2018, a cada R$ 100 arrecadados com coberturas como alagamento, inundação, danos por raio, R$ 46 eram pagos para reparo de danos. Este ano, esse valor subiu para R$ 74.
– Aquecimento global e fenômenos como El niño tem influenciado nesse aumento de sinistralidade. Por outro lado, os condomínios têm cada vez um número maior de equipamentos eletrônicos o que aumenta o custo em caso de cobertura por dano elétrico em caso de raios – exemplifica Jarbas Medeiros, presidente da Comissão de Riscos Patrimoniais Massificados da FenSeg.
Esse foi o terceiro grande temporal do ano, no primeiro, em 6 de fevereiro, há um condomínio da Gávea em que a perda com a queda de parte do muro somou R$ 200 mil, outro, em São Conrado, terá que arcar com R$ 60 mil para o conserto dos danos causados pela lama na área de lazer. Em tempo de orçamentos apertados e fundos de reservas baixos, os administradores temem o reflexo dessas perdas nos valores da taxa condominial. Os condomínios que não contam com cobertura de alagamento, inundação e enchentes na sua apólice de seguro terão que ratear os custos entre os moradores dos prédios, o que pode levar à cobrança de cota extra.
O impacto dos prejuízos causados pelas chuvas no orçamento, dizem os especialistas, tem ampliado a contratação de coberturas específicas pelos condomínios. Cerca de 70% dos 1.300 condomínios administrados pela Cipa, no Rio, por exemplo, já incluíram garantias relacionadas à chuva — como inundação, alagamento e enchentes — em suas apólice. Isso representa um aumento entre 15% e 20% do valor do seguro, diz Marlon Rosalvos, gerente de seguros da empresa, que registrou um aumento de 200% nos pedidos de indenização, por alagamento/enchente nos últimos dois anos.
— Os condomínios estão ficando mais cautelosos. Mal comparando, o síndico é um “prefeito” e sabe se algo acontecer o custo pode não ser suportado pelos moradores. E o investimento não se restringe ao seguro, barreiras para conter água, bombas de sucção são alguns investimentos que prédios em áreas de maior risco de alagamento vêm fazendo. É preciso investir em prevenção, até porque, se a falta de manutenção for corresponsável por um dano causado ao condomínio, a indenização pode vir a ser negada pela seguradora — explica Marcelo Borges, diretor de Condomínios e Locação da Associação Brasileira de Administradoras de Imóveis (Abadi).
De forma geral, o custo de manutenção, segundo os especialistas. corresponde a cerca de 15% do valor da taxa condominial. E a pressão para redução de custo, devido a crise financeira, diz Rafael Thomé, diretor executivo de administradora, pode estar refletindo em maior prejuízo para os condomínios nesses últimos dois anos.
— Hoje a segurança, seja ela contra a violência ou por acidentes naturais tem um peso significativo para o orçamento dos condomínios e acabam de retirar a possibilidade de investimento em outras áreas. Manutenção simples, como limpeza de calhas, ralos e telhados, a atualização de para-raios e manutenção de fachadas são essenciais para reduzir riscos. É preciso fazer uma avaliação de risco severa para se prevenir de prejuízos — ressalta Thomé.
Atenção às exclusões e aos valores de cobertura
Ludimila Ricon, especialista em sinistro da Corretora Multiseguros, recomenda que ao fechar um contrato o síndico do prédio nunca deixe de perguntar o que não está coberto.
— As pessoas sempre se preocupam com as coberturas, mas o fundamental é saber o que não entra para você gerenciar o seu risco. Por exemplo, as apólices não costumam cobrir danos por água no poço do elevador. Não tem como hábito gerenciar risco, mas ao nos informamos sobre as exclusões, podemos prever algum recurso no orçamento para caso aquele problema aconteça — orienta Ludimila, que identificou um aumento de 50% nas demandas por indenização desde janeiro.
Rogério Quintanilha, consultor na área de administração de imóveis e ex-diretor da Abadi, chama atenção ainda para o fato de que é preciso saber dimensionar o valor das indenizações:
— Muitas vezes, para baratear custo, o condomínio acaba contratando uma cobertura aquém da sua necessidade. Quando o problema acontece é um transtorno, pois se o dano for de R$ 300 mil, mas a indenização contratada for de R$ 150 mil, os moradores terão que ratear o resto do valor. E não adianta usar a lógica de que nunca utilizou antes o seguro, ele é um contrato, renovado anualmente, e que só vai cobrir aquilo que está previsto, por isso é necessária muita atenção ao contratar.
Medeiros, da Fenseg, chama atenção para o fato que o seguro de cobertura ampla, em que o valor total segurado garante a indenização para qualquer evento, ainda é muito pouco contratado.
— O seguro simples, em que corretor e síndico estabelcem valores para indenização por conbertura ainda é o mais comum. Isso leva, em muitos casos, há uma subcontratação. Ou seja, a contratação indenizações subdimensionadas, que pode não atender completamente ao condomínio em caso de uma inundação. É possível se rever esse valor antes da próxima renovação da apólice, com um endosso — alerta o especialista.
Fonte: O Globo/ Economia