Para evitar que o sonho da casa própria vire um pesadelo, A Tarde consultou especialistas do setor para mostrar tudo o que deve ser feito antes da compra do imóvel. Além das construções irregulares, uma grande preocupação dos engenheiros é a ocorrência de infiltrações nos imóveis.
“Uma questão fundamental é avaliar se há infiltrações no apartamento, em áreas como a cozinha e o banheiro, ou no apartamento de cima”, avalia o presidente do Conselho Regional de Engenharia e Agronomia, Marco Amigo, responsável pela edição do Manual de Aquisição de Imóveis, editado pelo Crea em parceria com A Tarde.
Uma avaliação feita pelo Crea indica que em cada dez imóveis, oito apresentam infiltrações, uma ocorrência que pode levar à deterioração da estrutura física do prédio, com riscos de futura instabilidade na estrutura do imóvel.
Além disso, as infiltrações podem causar choques elétricos e manchas nas paredes. O que, além da questão estética, traz a depreciação do valor do imóvel. Nos casos de unidades em que há fissuras, esse índice sobe para 98%. As maiores incidências de infiltrações ocorrem nas chamadas “áreas molhadas”, como cozinha, banheiro, área de serviço e playground. Mas podem ocorrer também nas fachadas, paredes e esquadrias.
Em 2011, a jornalista Karina Baracho mudou-se para um apartamento comprado na planta. Logo depois da mudança, começaram a surgir nas paredes marcas de mofo, oriundas de “um mau serviço de impermeabilização externa”, segundo alega a proprietária. Um plano de reparo foi elaborado por um engenheiro e realizado pela construtora depois de uma contenda judicial. “Estou grávida de sete meses e as manchas no quarto do meu filho voltam com força cada vez maior”, reclama Karina.
Maurício Almeida, coordenador de obras da construtora responsável pelo empreendimento, afirmou que a empresa está realizando os reparos, mas responsabiliza a proprietária. “É uma questão de umidade. O imóvel passa o dia fechado e sem ventilação, o que causa as manchas na parede”, declarou.
Murilo Aguiar, diretor de fiscalização da Secretaria Municipal de Urbanismo, chama a atenção para a importância de o comprador se certificar de que a documentação do imóvel esteja em dia, o que serve como uma garantia de que a obra cumpre os requisitos legais. “O comprador deve exigir o alvará de construção e o habite-se , que são uma garantia de que o imóvel oferece segurança”, afirma Aguiar.
Ele ressalta também a importância de que o comprador recorra a um corretor de imóveis, que pode auxiliá-lo na avaliação da segurança jurídica do empreendimento.
O corretor de imóveis Marcos Cabral destaca que a categoria normalmente busca informações sobre as condições físicas do imóvel para se certificar sobre a situação do que vai comercializar, mas ressalta que os profissionais não têm controle sobre as questões de segurança.
“Quando vemos a documentação em dia, confiamos que foi feito todo trabalho de avaliação por parte da prefeitura”, afirma Cabral, ressaltando que às vezes acontece de o corretor trabalhar com “um fruto podre”, como se refere as quem frauda a documentação.
Em uma cidade com tantas construções irregulares, há sempre o risco de um comprador perder todas as suas economias por investir em um imóvel irregular. Da parte do corretor, cabe assegurar que juridicamente haja segurança”, avalia.
Nem a Sucom nem o Crea têm um estudo conclusivo a respeito da quantidade de imóveis irregulares existentes em Salvador. Com base em conhecimentos empíricos, costuma-se estimar que a quantidade de imóveis construídos de forma irregular na capital baiana atinja pelo menos 70% do total.
Fonte: A Tarde/UOL (30/5/15)