Depois da alta de juros e do endurecimento das regras de financiamento da Caixa Econômica Federal e do Banco do Brasil, mais um balde de água fria para quem deseja comprar a casa própria. A Caixa, que nos últimos dois anos permitia o pagamento da prestação só em janeiro do ano seguinte para quem contratasse o financiamento imobiliário em seu feirão anual, deixará de oferecer a vantagem na edição deste ano.
– Antes, a pessoa comprava e pagava lá na frente, conseguia ajustar seu orçamento e tinha um tempo para isso. Agora, já tem que ter em mente que vai ter que pagar no mês que vem. Tudo indica que as transações neste feirão, até pelo cenário econômico, com a inflação subindo, maior índice de desemprego, renda caindo, serão mais fracas em relação ao ano anterior. As pessoas estão mais receosas para se comprometer a longo prazo – avalia o vice-presidente do Secovi Rio(sindicato do setor de habitação), Leonardo Schneider.
Segundo a Caixa, a 11ª edição do evento vai focar no financiamento do programa Minha Casa Minha Vida e nas operações com recursos do FGTS de até R$ 190 mil, com 5.221 imóveis. No total, o feirão deve oferecer 22.334 imóveis novos e usados.
O banco manterá o prazo de financiamento de até 35 anos. Para o público de baixa renda, a taxa de juros é de a partir de 4,5% ao ano. Nos demais segmentos, o percentual é de até 11%. Além do Rio, o evento será realizado em outras 13 cidades e reunirá construtoras, imobiliárias e funcionários da Caixa.
– As condições ofertadas serão as mesmas das nossas agendas. Mas os principais atores do mercado imobiliário estarão presentes na feira. O evento também vai privilegiar imóveis novos porque eles têm um impacto na economia mais forte, na geração de emprego e renda – afirma o superintendente regional da Caixa José Domingos Corrêa Martins.
Sem a folga no prazo de pagamento da primeira prestação, só as construtoras poderão dar alguma colher de chá ao interessado em comprar um imóvel. A PDG, que estará no feirão, por exemplo, vai oferecer, além de produtos focados no Minha Casa Minha Vida, desconto médio de 10%, se o cliente pagar na tabela, e até 25% caso decida fazer a compra à vista em unidades prontas e empreendimentos em execução de até R$ 750 mil.
– A redução dos lançamentos e vendas cria uma boa condição de negociação para o consumidor, mas vai depender do que ele está procurando em termos de região, tipologia e oferta. Sugiro que, antes de ir ao feirão, o consumidor pesquise a região na qual tem interesse, o tipo de imóvel e veja as oportunidades que já existem para que possa chegar lá direcionado a um determinado tipo de empreendimento – recomenda o diretor regional da PM Claudio Hermolin.
As construtoras têm tido um ano difícil, marcado pelo aumento de estoques e alta da inflação. Mesmo assim, o consumidor não terá mais condições de financiamento tão vantajosas quanto as do ano passado, pondera Schneider, da Secovi, já que as regras da Caixa para empréstimo mudaram.
A Caixa fez a segunda redução do limite do financiamento habitacional neste mês. A medida atinge contratos de imóveis usados e exige entrada maior no valor do imóvel. Na compra pelo Sistema de Financiamento Imobiliário (SFI), para imóveis avaliados em mais de R$ 750 mil, o interessado deverá pagar à vista 60% do valor.
A exigência anterior previa entrada de 30%. já pelo Sistema Financeiro da Habitação (SFH), para imóveis de até 11$ 750 mil, uma entrada de 50% do valor é requerida. Antes, o percentual exigido era de apenas 20%. As mudanças valem para contratos que seguem o Sistema de Amortização Constante (SAC), em que a prestação cai ao longo do tempo.
– Poucas pessoas têm o dinheiro vivo para fazer o investimento num imóvel, então elas contam com a possibilidade de financiar. E era isso que vinha salvando o mercado. Quando a Caixa, que é o principal banco de financiamento, muda as regras para empréstimo, há um efeito manada frente aos outros bancos, o que freia ainda mais o mercado imobiliário. Acho que a Caixa está sem dinheiro até pelo saque alto da poupança e pelo fato de o FGTS ter chegado ao teto máximo, por isso, a restrição do financiamento – pontua Schneider.
(O Globo 11/5/15)