Representantes do mercado imobiliário e especialistas do ramo veem um horizonte de cerca de dois anos para uma retomada mais consistente do mercado imobiliário no país. Alguma recuperação da confiança pode ocorrer a partir da segunda metade de 2016, mas de forma mais sustentada, somente em 2017.
Crédito mais caro e seletivo, mercado de trabalho mais fraco, menos lançamentos e vendas afetam os dados de financiamento habitacional. Levantamento da Associação Brasileira das Entidades de Crédito Imobiliário e Poupança ( Abecip) para os três primeiros meses do ano indicaram a primeira queda desde 2002 no valor total de financiamentos para compra da casa própria, reforma e construção com recursos da poupança. O recuo foi de 4,62% e o total financiado ficou em R$ 24,07 bilhões entre janeiro e março; contra R$ 25,235 bilhões no mesmo período deste ano.
E os dados da Abecip ainda não incorporam os recentes anúncios da Caixa Econômica Federal. Em abril, o banco decidiu endurecer a exigência do valor da entrada para financiamentos habitacionais do Sistema Financeiro de Habitação (SFH) e do Sistema Financeiro Imobiliário (SFI), além de deixar mais caro para mutuários os juros para imóveis novos e usados.
Tempestade perfeita
Segundo a Abecip, também houve queda nas vendas de imóveis. As unidades comercializadas somaram 109.489 neste ano e já estão 11,6% menores do que no mesmo período do ano passado. Para especialistas, a tendência é de continuidade de queda nos dois indicadores.
O consultor especializado em mercado imobiliário da Galanto Marcus Vinicius Valpassos vê uma possível recuperação somente em 2017. Segundo ele, qualquer retomada mais forte só com uma maior confiança de consumidores e de empresários. Ele prefere chamar de “tempestade perfeita” o conjunto de más indicadores relacionados ao financiamento habitacional.
– O mercado de trabalho está desandando, o que aumenta a possibilidade de inadimplência, os juros estão subindo, o comprador está bem mais retraído, porque acha que os preços de imóveis vão cair. Todas as análises estão piores – afirma Valpassos.
Para a pesquisadora da Fundação Getulio Vargas de São Paulo, Ana Maria Castelo, os números do primeiro trimestre mostram uma inflexão importante tanto do lado da oferta quanto da demanda do mercado imobiliário
– Vamos ter um longo período de taxas negativas ou estáveis. É difícil imaginar que algo vai mudar em termos de decisão de compra das famílias antes do segundo semestre do ano que vem.
O presidente da Associação de Dirigentes de Empresas do Mercado Imobiliário (Ademi), João Paulo Matos, diz que os preços ainda não começaram a cair, mas que as expectativas estão piores. Ele lembra que o mercado vem nos últimos anos em ritmo de clara redução de vendas e de lançamentos imobiliários e que agora se ressente da crise política e econômica.
– O mercado está muito mal. Talvez não chegue a mil o número de unidades lançadas até março no Rio. No ano passado, foram 17 mil. As pessoas não sabem como tomar uma decisão, estão com medo de perder o emprego.
Fonte: O Globo (1º/5/15)