18 de novembro de 2014
Após três meses seguidos de deflação, o Índice Geral de Preços-Mercado (IGP-M), o indicador usado para reajustar a maioria dos contratos de aluguel, vem sofrendo uma queda no acumulado de 12 meses que já o deixa abaixo do índice oficial de inflação, o IPCA. Em julho, enquanto o IGP-M sofreu uma variação de -0,61%, ficando em 5,32% em 12 meses, o IPCA — anunciado na sexta passada — fechou em 0,01%, atingindo 6,5% em 12 meses. Um motivo para os proprietários tentarem rever os contratos de locação e até mudarem o índice usado no reajuste? Ou optarem pelo IPCA ao assinar um novo contrato?
Na verdade, não. Primeiramente porque, ao longo do tempo, os índices acabam convergindo para um mesmo patamar. Segundo porque, ao menos no momento, a diferença é muito pequena. Um aluguel de R$ 2 mil, por exemplo, se reajustado pelo IGPM este mês passaria a R$ 2.106,40. Já se o índice usado fosse o IPCA, o novo valor devido pelo inquilino seria de R$ 2.130. Uma diferença de apenas R$ 23,60 que não compensaria o trabalho nem o desgaste emocional que uma troca como essa poderia causar. Já para um aluguel de R$ 6 mil, a diferença entre os dois reajustes ficaria em R$ 70,80. Valor ainda muito baixo. A mesma lógica vale para os contratos novos, até porque não há uma garantia que o IPCA se mantenha acima do IGP-M e o mercado já começa a prever uma inflação menor para os próximos meses.
— Ainda que os valores fossem mais altos e justificassem que o proprietário quisesse fazer uma troca, o inquilino, certamente, não aceitaria pagar mais. E a verdade é que, a longo prazo, esse tipo de troca pode trazer uma insegurança jurídica ao negócio que não é boa nem para o proprietário nem para o inquilino. Sem falar, que para fazer a troca, seria necessário refazer o contrato, reconhecer firma. Um processo trabalhoso demais para um efeito econômico irrisório — analisa o economista Gilberto Braga, para quem o ideal é sempre tentar fazer uma negociação direta com um acordo que seja bom para ambas as partes.
Vice-presidente do Sindicato da Habitação, o Secovi-Rio, Leonardo Schneider concorda:
— Não vale a pena mexer em algo que está funcionando por uma diferença tão pequena. Quando o valor está defasado, fora do preço de mercado, como aconteceu nos últimos anos após a subida dos preços, faz sentido fazer uma renegociação. Mas hoje isso só acontece em um outro imóvel comercial. Os residenciais já foram praticamente todos reajustados. E com o mercado em ritmo mais lento, e o número de ofertas aumentando, não há porquê tentar fazer uma troca como essa.
Ao longo deste ano, o IGP-M acumulado em 12 meses vinha se mantendo acima do IPCA. Até que em junho, após sofrer uma deflação de -0,74%, a situação mudou. Mas, como as projeções do mercado financeiro para o IPCA até o fim do ano vêm caindo nas últimas semanas — o último boletim Focus previa uma inflação de 6,39% —, pode ser que os índices se aproximem ainda mais.
Fonte: O Globo (12/11)