12 de novembro de 2014
Segundo as corretoras de imóveis e construtoras, que gerenciam imóveis no bairro, além dos locais tombados e das áreas ambientais, a maior dificuldade de se investir em lançamentos são as questões legais. Como Jurujuba foi crescendo, passando de colônia de pescadores para ganhar o status de bairro, muitos dos terrenos não possuem escritura regularizada, sendo em grande maioria posses, que se tornaram propriedades das famílias pelo longo tempo que residem no local.
“Trata-se de um local que abriga colônias de pescadores e famílias antigas, e possui algumas dificuldades na legalização de terrenos para construção. O bairro tem poucas transações de compra e venda. As famílias que lá residem não têm interesse na venda de seus imóveis, em função dos preço médio trabalhado na região, que não permitiria a compra em certos locais mais valorizados, ou mesmo em função da tradição familiar”, explica Hélio Brito, diretor operacional da Julio Bogoricin Imóveis.
Essa relação também está associada pela forma com que Jurujuba foi ocupada. As terras foram distribuídas aos primeiros moradores quando o acesso à localidade era possível apenas por mar, já que a passagem por Charitas foi construída bem depois de algumas famílias já terem se instalado no local, isso faz com que muitos dos descendentes dos colonizadores tenham uma longa vivência, sejam efetivamente donos das terras, mas não possuam oficialmente a documentação.
Documentação – O problema quanto à documentação parte também da questão de ser um bairro próximo a uma área militar. Com o tempo, a abrangência do quartéis diminuiu, mas mesmo assim ainda existem famílias, como a da primeira mulher a bordar a bandeira do Brasil, que residem em terrenos pertencentes ao Exército.
Mesmo assim, Jurujuba atrai a atenção, seja pela sua vocação turística, onde as pessoas aproveitam o tempo livre para visitar a área militar e conhecer o polo gastronômico, que vem se formando há algum tempo, ou até mesmo conhecer um pouco sobre a pesca artesanal, que está entre as principais atividades desenvolvidas no bairro. Com isso, o grande potencial imobiliário do bairro é a locação de imóveis, principalmente na alta temporada.
“Aos finais de semana o movimento no bairro é grande, a gastronomia local traz turistas de todos os lugares. Hoje em dia, a Fortaleza de Santa Cruz é mais visitada do que o MAC (Museu de Arte Contemporânea). Outro ponto forte é a segurança, que se torna maior com a presença constante dos veículos do Exército, por causa da área militar”, conta a atleta paraolímpica Carol Basílio, que há 31 anos mora em Jurujuba.
Vantagens – Nascida e criada no bairro, Carol Basílio é um exemplo de moradora que não troca o local por nada. Para ela, Jurujuba está além da paz e do sossego que oferece aos seus residentes: “É amor e tradição”.
“Sou neta de Jurujuba. Quando a minha avó chegou aqui, os moradores só tinham passagem de barco e esse lugar foi se expandindo pelas veias da família. Como existe esse costume de os imóveis irem passando de pai para filho, não existem muitos moradores novos, é mais a evolução das famílias”, conta Carol.
Mas Carol explica que o conforto de viver em uma área que não tem um movimento intenso de carros, cercada por casas e com muito verde tem um preço, que faz com que a maioria das pessoas que procuram pelo local estejam realmente buscando um maior contato com a natureza e distância dos grandes centros comerciais.
A gente paga um preço por viver essa tranquilidade. Não temos uma grande variedade de comércios e serviços, como farmácias e bancos, fazendo com que tenhamos que sair do bairro para resolver algumas coisas. Outro ponto é o acesso, temos apenas uma linha de ônibus e a entrada do bairro é estreita em um determinado ponto, possibilitando a passagem de um veículo por vez”.
Assim como Carol, o presidente da Associação de moradores de Jurujuba, Antônio Carlos Jeremias, é outro cuja família cresceu no bairro. Ele também pondera os prós e contras da relação sossego e conforto, mas garante que a qualidade de vida ganha.
“A maior parte da minha família é nascida e criada aqui. Precisamos de mais comércios, mas temos a vantagem de viver em casas, com mais liberdade, podendo ter quintal, ter espaço”, diz Jeremias.
Fonte: O Fluminense (09/11)