No dia 04 de Abril, o presidente do Banco Central Roberto Campos Neto foi entrevistado pela XP Investimentos. Uma mensagem chamou muito a minha atenção, e por isso escrevo este artigo.
Depois de 50 minutos de uma explanação muito técnica e objetiva de Campos Neto, com dados sólidos sobre a situação e apresentação das medidas já tomadas pelo BC ele pediu para concluir com alguns pontos e resumidamente disse:
“É uma coisa que nos preocupa bastante, que é esse tema de quebras de contrato. A gente vê que algumas empresas estão dizendo: “Olha, nessa dificuldade eu não posso pagar meu contrato, eu não posso pagar aluguel, eu não posso pagar energia”. (…) nós preferimos ter um fiscal um pouco pior para colocar mais dinheiro na mão das pessoas para que elas possam honrar os contratos. Se nós entrarmos em um regime de quebra de contratos, vai ser muito danoso para economia brasileira no médio longo prazo. Obviamente que se for em comum acordo, ótimo (…) se levarmos isso (quebra de contratos) ao limite, nós temos um colapso do sistema.”
A fala começa aos 50 minutos do vídeo aqui linkado e desde já recomendado a todos.
https://www.youtube.com/watch?v=1hhyzlLkKbw&t=3658s
Aqui, cito a frase que para mim é a mais surpreendente e forte dessa passagem e a que devemos nos atentar mais:
“… nós preferimos ter um fiscal um pouco pior para colocar mais dinheiro na mão das pessoas para que elas possam honrar os contratos.” (Campos Neto)
Desde 1999, quando apresentada pelo então Presidente do BC Armínio Fraga, a Meta fiscal é um dos tripés que sustentam a macroeconomia Brasileira. No entanto, hoje, em meio à crise, para o governo é mais importante que você honre seus contratos.
Por quê? Porque a economia precisa girar. É uma roda que acelera e desacelera. Tentar interromper esse fluxo leva ao “colapso do sistema” como dito por Campos Neto.
Toda vez que “João resolve não pagar a José” mesmo tendo possibilidade, João cria um problema para José, que repassa pra frente por não ter opção. Esse movimento cria uma cadeia de destruição que em algum momento retornará a João, dessa vez não terá condições reais de pagar.
Ciclo da destruição:
No mesmo sentido, os projetos de lei que hoje surgem, de forma oportunista, propondo suspensão de aluguéis e outros pagamentos onde o credor não seja o próprio governo, devem ser totalmente descartados. A mão governamental está longe demais das negociações comerciais e locatícias particulares para arbitrar qualquer solução generalista saudável.
É simples. Se meu fornecedor quebrar, meu custo sobe por diminuição da oferta. Se meu cliente quebra, minha receita diminui por falta de demanda. E todos quebramos junto.
Ainda devemos levar em consideração que o Brasil vem se recuperando de uma das maiores crises de sua história, com uma posição financeira de liquidez ainda não adequada. E mesmo assim, o presidente do BC prefere flexibilizar um dos tripés para manter a circulação financeira.
Esse é o tamanho do problema. Essa é a mensagem mais importante.
John Nash, que recebeu um nobel de economia em 1994 e foi retratado no filme “Uma Mente Brilhante”, apresentou a teoria perfeita para embasar a atitude do Banco Central do Brasil. O Equilíbrio de Nash é a solução em que nenhum jogador pode melhorar seu resultado com uma ação unilateral.
“o melhor resultado acontece quando todo mundo do grupo faz aquilo que é melhor para si e para o grupo como um todo.” (Jonh Nash)
Conclusão:
1)Se você pode pagar seus contratos, aluguéis, condomínio etc. Pague! É melhor pra sociedade e para você.
2)Se você foi realmente afetado pela crise e isolamento social, negocie, postergue os prazos, faça acordo.
Com certeza o COVID-19 será uma intensa batalhada que só está começando, mas tenho absoluta certeza que nossa sociedade está pronta para tomar decisões individuais que sejam coletivamente mais inteligentes.
Cuide-se! Fique em casa! E sairemos dessa crise mais fortes, humanos e unidos.
Rafael Thomé
Presidente da ABADI