10 de novembro de 2014
Em novembro de 2013, a fisioterapeuta Flávia Lopes precisou brigar com o dono do apartamento onde mora, na Tijuca, pois, com o mercado de aluguel aquecido no Rio de Janeiro, ele queria aplicar um reajuste acima da alta do IGP-M (5,27%), índice que corrige a maioria dos contratos do setor. Inclusive, o dela. Agora, um ano depois, Flávia não tem do que se queixar: o novo valor do apê será R$ 2.162, por causa da variação de 2,96% do IGP-M dos últimos 12 meses — a taxa mais baixa em quatro anos e distante da inflação oficial medida pelo IPCA, que vem girando em torno dos 6,5%.
Assim, para quem é inquilino no Rio, há hoje duas atenuantes. A primeira é que, segundo pesquisa do Banco Central (BC), a projeção é de que o IGP-M não avance muito, fechando o ano em 3,13%. A segunda é que, de acordo com especialistas, o mercado de locação na cidade se retraiu e, mesmo para os aluguéis novos, não há espaço para grandes altas.
O superintendente adjunto de Inflação da Fundação Getúlio Vargas (FGV), Salomão Quadros, diz que o cenário esperado, no momento, é de moderação:
— Depois de registrar quatro meses de deflação (de maio a agosto), o IGP-M subiu em setembro e agora está avançando numa velocidade moderada. E ele não saiu da deflação por conta de vários preços que estivessem subindo. Podemos ter uma recuperação do IGP-M, mas não vejo um movimento generalizado que possa jogar o índice para muito longe disso.
Segundo o Índice FipeZap, aliás, os aluguéis no Rio começam a cair. Pelo terceiro mês consecutivo, em outubro, houve queda, de 1,07%. No acumulado de 12 meses, a alta se mantém: 5,66%.
O gerente de Locações da administradora Apsa, Giovani Oliveira, explica o resultado negativo: de março a junho, houve retração superior a 40% na busca por imóveis para alugar:
— A partir do mês de julho, nós captamos recuperação na procura, mas não o suficiente para acabar com o estoque de imóveis para aluguel. Com o futuro econômico ainda incerto, não esperamos alta nesse movimento. O nível de endividamento do consumidor não deve cair; no máximo, ficará igual. Então, dificilmente o aluguel teria como subir muito.
ESTOQUE ALTO COM VOLTA DOS IMÓVEIS NO “PÓS-COPA”
No fim de 2013, muitos imóveis foram retirados da locação tradicional para serem alugados por temporada. Agora, no pós-Copa, eles voltam ao mercado. Isso fez com que crescesse o estoque de unidades e, consequentemente, que os valores de aluguéis sofressem uma acomodação, diz Giovani Oliveira, diretor de Locações da administradora Apsa.
— Houve variação positiva nos preços em pouquíssimos bairros. Na maioria, foi o inverso. Tivemos que ligar para os proprietários e pedir para fazer um ajuste pra baixo para conseguir alugar, tendo em vista o aumento de disponibilidade. E também não há um movimento de proprietários pedindo a devolução do imóvel alugado ao fim do contrato para alugar por um valor mais alto que a correção do índice, que é o que acontece em mercado aquecido.
George Eduardo Masset, presidente da administradora Masset, faz coro com Oliveira:
O economista Luiz Roberto Cunha lembra que nos últimos anos houve forte valorização dos aluguéis no Brasil em função de fatores de mercado, como aumento de renda, queda do desemprego e expectativas positivas de empresários e consumidores. Sem falar no desequilíbrio entre oferta e procura, observado em algumas cidades. No Rio, ressalta ele, ainda houve fatores importantes ajustando o preço dos imóveis e, consequentemente, os aluguéis, como a questão da segurança e da criação das UPPs.
— Houve até uma certa bolha, mas nunca achei que haveria uma queda acentuada de preços pois os fatores de mercado prevaleciam sobre a especulação. Como as perspectivas da economia estão se deteriorando, estamos vendo um ajuste em termos reais nos preços dos imóveis e nos aluguéis, ou seja, as variações têm ficado abaixo da inflação — acentua Cunha, ressaltando, ainda, que há casos de preços de venda e de aluguel que estavam acima de seu valor de mercado. — Quanto a esses, podemos ver uma queda de valor mais acentuada.
Fonte: O Globo (09/11)