17 de setembro de 2014
Aumentam os casos de fraudes com código de boletos bancários
O nome da empresa e os dados do cliente estão corretos, mas basta a alteração de alguns números no código de barras para que o consumidor, apesar de ter pago a conta, seja considerado inadimplente pela empresa credora. O golpe, da chamada “gangue do boleto”, multiplica-se. Mudam-se números do código de barras, e o pagamento feito é redirecionado para a conta da quadrilha. A fraude levou a Associação Brasileira das Administradoras de Imóveis do Rio de Janeiro (Abadi-Rio) a enviar, ontem, comunicado a todas as suas associadas para que alertem condôminos e inquilinos sobre a fraude, mesmo procedimento que tem sido adotado por instituições de ensino, como a PUC-Rio. A maioria dos casos identificados, até o momento, aconteceu quando o consumidor baixava da internet a segunda via do boletos, mas há registros de interceptação de correspondência e troca da fatura.
— Tivemos relatos de algumas administradoras e, na empresa em que trabalho, houve, há alguns meses, um golpe envolvendo número significativo de inquilinos. Por isso, achamos melhor alertar os clientes, pois sem ter como identificar a fraude, eles só descobrem que o dinheiro não foi para conta do credor quando recebem a notificação de inadimplência. Com essas informações, vão poder conferir antes de pagar. E também estamos vendo como a tecnologia pode evitar a fraude e rastreá-la quando acontece — diz Deborah Mendonça, presidente da Abadi e diretora da administradora Cipa.
Fernando Scheneider, diretor da administradora Apsa, que emite mais de cem mil boletos por mês, apesar de ter somente um caso de fraude confirmado até agora, já enviou comunicado a todos os seus clientes em agosto.
— Sei que o número de casos pode ser maior, pois levamos 60 dias para fazer a cobrança e quem está com a fatura paga, naturalmente, demora mais a responder — avalia Scheneider, que registrou o caso na polícia e orientou o cliente a fazer o mesmo.
Para Carlos Thadeu de Oliveira, gerente técnico do Instituto Brasileiro de Defesa do Consumidor (Idec), alerta das empresas é bem-vindo, mas isso não as isenta de responsabilidade.
— Fraudes sempre vão existir, e cabe à empresa buscar todas as precauções para reduzir esse risco, que seja um selo na fatura ou até entrega personalizada. O consumidor é o último que pode pagar por isso. Mesmo sendo uma fraude de terceiro, esse é um vício oculto do serviço, que o cliente não tem como identificar — avalia.
BANCO ALERTA PARA PEDIDO DE TROCA DE BOLETO
A comerciante Soledady Carrara descobriu a fraude no boleto do seu cartão de crédito do Santander na hora em que ia quitá-lo:
— A moça do banco verificou que o código de barras na parte de cima da fatura era diferente do que ficava embaixo. Ela disse que na minha região isso estava acontecendo muito. Na época, o endereço era de Botafogo. Pedi outra fatura ao Santander que confirmou haver outros casos.
O Santander recomenda que os clientes tenham cuidado com telefonemas informando sobre a necessidade de troca de boletos, com alegações de que há valores indevidos. O banco diz que se for necessária segunda via deve-se solicitar a fatura sempre pelo site do banco emissor com CNPJ da empresa, o valor e data de vencimento do título.
O analista de sistemas Reginaldo Soares Filho não teve a mesma sorte de Soledady. Ele quitou o valor integral da fatura de maio, de R$ 525,71, de seu American Express. Depois teve uma compra negada no fim daquele mês, segundo a loja por estar inadimplente. Foram dois meses tentando provar que estava com as contas em dia, até que ele resolver contratar um advogado.
— A fatura chegou pelos Correios, com todos os dados perfeitos, inclusive sobre compras parceladas e feitas em dólar. Não poderia desconfiar que havia fraude ali, nunca. A empresa não acredita no consumidor, e eles devem saber que há outros casos, que não sou o único azarado a ter sofrido esse golpe — queixa-se Soares Filho, informando que recebeu o crédito, mas que o caso ainda continua em análise.
Para a advogada Janaina Alvarenga, da Associação de Proteção e Assistência aos Direitos da Cidadania, que cuida do caso de Soares Filho, é difícil para o consumidor identificar a fraude:
— O golpe é muito bem engendrado. E se há uma falha na segurança, o fornecedor tem que se precaver. O cliente não pode arcar com esse custo.
O Bradesco, que responde pela American Express, afirma que o boleto foi interceptado e que a adulteração não ocorreu dentro do banco, que investe e adota sistemas de segurança antifraudes. A instituição informou que o caso de Soares Filho foi regularizado.
FEBRABAN: EVITAR FRAUDE SEM DIFICULTAR ACESSO
A qualidade do papel e um risco na impressão chamou a atenção de uma família tijucana que desconfiou de problemas na fatura do cartão Itaú.
— Decidimos ligar para o banco e confirmamos a fraude. Onde ela ocorreu, se foi dentro do banco, no caminho da correspondência ou no prédio, não sabemos. Por isso, não queremos nos identificar, pois quem fez essa fraude tem o nome da minha irmã, o endereço e sabe todos os seus hábitos de consumo. Estamos nos sentindo muito vulneráveis — diz o consumidor.
O Itaú afirma investir em segurança e orientar os clientes. Segundo o banco, as reclamações relativas a fraudes são minuciosamente analisadas, mas “há muitos problemas contra os quais não há como o banco atuar, a não ser pela prevenção da clientela”.
A Federação Brasileira de Bancos (Febraban) afirma que o setor investe cerca de R$ 20,6 bilhões por ano em tecnologia da informação, incluindo ferramentas destinadas a evitar tentativas de fraudes. Segundo a instituição, “fortalecer a segurança é uma das prioridades dos bancos, porque tanto as instituições financeiras quanto os consumidores são vítimas dessa situação.” O desafio, diz a Febraban, é desenvolver formas de identificação e autenticação que impossibilitem as fraudes sem dificultar o acesso aos serviços.
Fonte: O Globo (17/09)