Um velho golpe com nova roupagem tem sido usado por ladrões interessados em roubar condomínios, especialmente os de alto padrão, em São Paulo e no Rio de Janeiro. Os criminosos têm se utilizado de dados cadastrais de clientes da empresa de telecomunicações NET, além de crachás e uniforme de funcionários da empresa, para entrar nos prédios, rendendo depois os donos das casas e roubando pertences de valor.
Na versão mais refinada do golpe, uma pessoa que se identifica como funcionário da NET entra em contato com o cliente e fornece os dados cadastrais dele. Depois que o morador confirmar, o golpista informa que a empresa irá fazer uma visita para realizar alguns procedimentos na rede. Outras vertentes incluem o envio de cartas e panfletos em nome de empresas de TV a cabo avisando sobre a manutenção.
Sem desconfiar da farsa, o morador autoriza a entrada na portaria. O golpista chega ao local com um veículo adesivado da empresa e uniformizado, portando inclusive crachás. Dentro do prédio, geralmente em parceria com outro criminoso, eles acessam os apartamentos, rendem a família e roubam os apartamentos. Em alguns casos, dirigem-se a casas vizinhas e também roubam os pertences da família.
Várias administradoras de condomínio alertassem os condôminos sobre o golpe. “Muitas administradoras, individualmente, já alertaram seus condôminos, e nós estamos preparando um material. Esse tipo de golpe só pode ser prevendo com atenção”, afirmou o diretor de Condomínio da Aabic (Associação das Administradoras de Bens Imóveis e Condomínios de São Paulo), Omar Anauate.
Ele esclarece ainda que o golpe também é realizado com outras empresas, como Correios e companhias de eletricidade. “Os golpes são cíclicos, e a NET é a nova moda. Mas é preciso ter cuidado sempre, em todas as vertentes, para evitar problemas”, disse.
No mais notório dos casos recentes envolvendo o tipo de golpe, ocorrido em 7 de agosto, dois homens armados invadiram um prédio de luxo na avenida Vieira Souto em Ipanema, zona sul do Rio de Janeiro, e assaltaram o apartamento do marchand e antiquário Arnaldo Brenha. A família efetivamente esperava a visita de técnicos da NET, mas em outro horário. Ao ver os bandidos disfarçados, o porteiro não chegou os crachás e liberou a entrada dos criminosos.
Cuidados
Para evitar que casos similares ao que ocorreu no Rio de Janeiro se repliquem pelo país, especialistas em segurança ouvidos pelo UOL afirmam que é preciso investimento. “Segurança é um tripé, precisa de treinamento de funcionários, conscientização dos condôminos e equipamentos”, disse Anauate.
Posição parecida tem o Secovi (Sindicato da Habitação) em São Paulo, De acordo com Hubert Gebara, vice-presidente de Administração Imobiliária e Condomínios da entidade, os condôminos precisam assumir a função de checar as informações e só liberar a entrada de pessoas que efetivamente forem fazer serviços em suas residências.
“Uma medida que deve ser tomada por todos é ligar para a prestadora e confirmar a realização de qualquer serviço e a identidade dos técnicos que irão ao local”, disse. “Sem isso, o condômino não deve liberar a entrada”, disse. “Da mesma forma, os porteiros devem ser treinados para consultarem as empresas e verificar a identidade dos técnicos independente do aval do morador”, disse.
Responsabilidade
Embora os condomínios e entidades do setor façam o possível para garantir que golpes do tipo se proliferem, o Judiciário brasileiro tomou uma posição que pode ajudar a minorar os problemas do tipo.
Em decisão datada no início desse ano, o Tribunal de Justiça de São Paulo condenou a NET ao pagamento de danos materiais e morais a clientes que tiveram o apartamento invadido por falsos funcionários da empresa. Eles portavam uniformes e crachás, além de se deslocarem em carro com o logotipo da empresa. A empresa foi condenada a pagar R$ 5 mil de dano moral e arcar com os custos de todos os bens roubados.
Segundo o desembargador Mário Silveira, a empresa merece a condenação por não ser diligente na proteção dos dados dos clientes. “Caberia à ré agir com diligência fornecendo os dados dos técnicos que visitarão a residência do consumidor”, disse, ressaltando que os bandidos “além de se identificarem como funcionários da NET, possuíam informações” sobre o cliente, incluindo o número de contrato, o que “levou os autores a acreditarem que se tratava de visita técnica normalmente realizada pela NET, sendo que nenhuma das afirmações se mostra incongruente.
No processo, a NET sustentou que não poderia ser responsabilizada, uma vez que não tem qualquer relação com as pessoas envolvidas no roubo. Procurada através de sua assessoria de imprensa, a empresa não se pronunciou sobre nenhuma das questões até o fechamento da matéria.
Fonte: Bol (14/8/15)