Um dos principais desafios do país atualmente é encontrar soluções econômicas e significativas para superar as dificuldades em relação ao cenário energético e hídrico pelas quais o Brasil passa. O abastecimento de água enfrenta grandes desafios. A escassez e os investimentos necessários em infraestrutura já impactam no custo da água para a população.
Vários são os projetos para tentar amenizar os problemas de abastecimento. Dentre eles, podemos citar as obras para transposição de rios, o trabalho de despoluição e a proteção de mananciais.
Todas estas alternativas requerem altos investimentos, tempo para planejamento e execução de obra, gerando benefícios no médio e longo prazo. Em paralelo a isso, soluções de curto prazo podem e devem ser adotadas para a melhor utilização da água, tais como a redução do desperdício, e maior eficiência também no reaproveitamento.
Nos grandes centros urbanos do país, as edificações – tanto no segmento comercial, residencial ou público – são responsáveis pelo maior consumo de água potável. Nesse ponto, pode-se destacar que o movimento da construção sustentável, que preza pelo consumo inteligente desse recurso, desde a execução da obra, até no momento de uso e de manutenção, tem contribuído de forma significativa para a mudança desse quadro.
Para se ter uma idéia, uma edificação “verde”, que utiliza tecnologias que vão desde a captação de água da chuva, torneiras que diminuem a vazão de água, até descargas inteligentes, por exemplo, gastam até 40% a menos de água em relação a uma construção comum, de acordo com levantamento do Green Building Council Brasil, entidade que concede as certificações LEED (Leadership in Energy and Environmental Design) no país às construções sustentáveis.
Do ponto de vista da água, a certificação verifica, desde o projeto inicial da construção, materiais que serão utilizados que visam a redução do consumo da água potável, além de alternativas que propiciem o tratamento e o reuso desse recurso. Atualmente existem 245 edificações certificadas LEED no Brasil.
Em São Paulo, por exemplo, a SABESP produz 60 m3/s de água para abastecer a região metropolitana, já considerando as intervenções no sistema de distribuição, como a diminuição na vasão do fluxo de água, e programas de conscientização junto à população. O sistema Cantareira é responsável por 34% desta produção.
Com o potencial de redução de consumo nos prédios “green buildings”, economizaríamos 24 m3/s. Ou seja, com a união de uma política integrada de eficiência que englobe a construção, reforma e operação das edificações, além da conscientização da população, seria possível atingir, sem grandes investimentos e com ótimas taxas de retorno, uma economia de água superior a quantidade de água produzida pelo sistema Cantareira por ano.
Diante disso, cresce a mobilização de organizações e associações que trabalham no incentivo às práticas de construção sustentável que visam, entre outros pontos, a economia de água.
Dentre as principais atividades desses grupos está a promoção de sistemas de certificação de edificações projetadas, construídas e operadas (como é o caso do LEED) com o intuito de maximizar seu desempenho no consumo de recursos naturais, bem como as atividades de readequação hídrica de edificações já existentes.
Hoje o Brasil ocupa a terceira posição no ranking mundial das construções sustentáveis, atrás apenas de Estados Unidos e China. Com status de potência no segmento, o país recebe a 6a edição da Greenbuilding Brasil – Conferência Internacional e Expo – a maior feira de construção sustentável da América Latina, que será realizada em agosto, em São Paulo.
Trata-se de uma grande oportunidade de o público ver de perto todas as soluções destinadas aos green buildings presentes no mercado, além de participar diretamente das discussões sobre os avanços da construção sustentável no Brasil.
Estamos vivendo uma realidade animadora, com um futuro sem precedentes para as construções sustentáveis.
Esse movimento ganhará ainda mais força se tivemos a contribuição de políticas públicas integradas (ministérios e agências reguladoras) para uma atuação alinhada e com metas audaciosas mirando o curto prazo. Quem ganha com isso é o Brasil, sua população e a sua economia.
Fonte: Jornal do Commercio (22/7/15)