Mesmo com o fim das restrições que impulsionaram o setor, pontos de venda caracterizados por autoatendimento vêm crescendo, principalmente dentro de condomínios
RIO – A pandemia fortaleceu o setor de minimercados, principalmente no período inicial do isolamento social. Mesmo com a melhora dos números da pandemia no Brasil, esses pontos de venda, principalmente dentro de condomínios, devem crescer nos próximos anos.
Segundo Eduardo Muniz, CEO da VMtecnologia, empresa especializada em plataformas de gestão e pagamento para micro markets, é um mercado em ascensão, onde a conveniência é o atrativo.
— Se você está mais perto do consumidor da sua marca, você tem uma vantagem: ele tropeça primeiro em você do que no seu concorrente. É o que chamamos de consumo de ultraconveniência — diz o executivo.
O número de pontos de venda da VMtecnologia cresceu 127% no último ano, depois de uma escalada de 350% na virada para 2021.
— Nos últimos 30 dias, alcançamos 2.449 pontos de venda. Acredito que, em 2022, vamos mais do que dobrar a quantidade de estabelecimentos ativos.
Autoatendimento
Os minimercados são pequenas lojas de conveniência instaladas dentro de condomínios, onde as compras são efetuadas via autoatendimento.
Antes da pandemia, a VMtecnologia atendia a uma gama de clientes que tinham máquinas automáticas de conveniência. Elas começaram a ser substituídas em 2017, momento em que surgem as pequenas lojas dentro das empresas.
— Quando veio a pandemia, a maior parte dessas lojas fechou abruptamente. Os operadores começaram a instalar lojas em condomínios, parecidas com os que já ofereciam antes — conta Muniz.
Segundo o diretor financeiro da Associação Brasileira das Administradoras de Imóveis (ABADI), Fernando Canato, esse ramo já vinha crescendo e ganhou impulso durante a pandemia:
— Nós percebemos muito mais síndicos interessados em minimercados. Na maioria das regiões, as empresas do segmento firmam parcerias com as construtoras para que os prédios fiquem prontos já com minimercado. É um diferencial.
Estoque adaptado
A Minha Quitandinha é uma start-up especializada em minimercados autônomos com operações 24 horas. As compras nas lojas da rede são feitas por um aplicativo de celular, que identifica o condomínio por geolocalização e explica como passar os produtos.
A empresa foi criada no fim de 2020, primeiro ano de pandemia, quando abriu apenas três lojas. Esse número chegou a 30 no ano passado, com o faturamento de R$ 1 milhão.
De acordo com o diretor de Operações da Minha Quitandinha, Marcelo Villares, a comodidade é um caminho sem volta, mesmo que o modelo de negócios tenha surgido na pandemia:
— O benefício de se ter um minimercado a um elevador de distância é uma realidade. A praticidade e a economia no deslocamento ajudam a consolidar cada vez mais esse modelo de compras.
Atualmente, a meta da empresa é ter 150 lojas e faturamento de R$ 10,5 milhões ainda em 2022. Este ano, já foram abertos 33 mercadinhos.
Tanto Villares, da Minha Quitandinha, como Muniz, da VMtecnologia, contam que os micro markets atendem a todas as zonas das cidades, independentemente da faixa de renda.
— O que determina o acesso a minimercados é a quantidade de moradores de um condomínio. Para um operador, é melhor um edifício de que concentra moradores das classes C e D, com bastante gente, do que um condomínio de classe A com pouca gente — afirma Muniz.
A única diferença está na cesta de compras. O mix de produtos de cada loja da Minha Quitandinha é escolhido e alterado de acordo com o consumo dos clientes.
Já nos minimercados da Market4u, mais um nome do setor, há sempre cervejas e refrigerantes, enquanto outros produtos mudam de acordo com o perfil das famílias do condomínio, caso elas tenham crianças, jovens solteiros ou pets. A Market4u conta com 1.941 unidades instaladas e cresceu 212% em 2021.
O estudante Alexandre Placido, de 23 anos, costuma comprar comida congelada e cervejas no mercadinho do seu condomínio, que fica na Barra da Tijuca, Zona Oeste do Rio. Para ele, a maior vantagem é o funcionamento 24 horas da loja de conveniência.
— Lá tem bastante variedade e o preço é acessível.
Preço mais alto
Tadeu Vital, de 22 anos, que também mora na Barra da Tijuca, diz que o mercado do seu prédio foi quase um aliado na pandemia. Mas, ultimamente, os preços têm ficado muito mais altos do que os dos supermercados.
— Eu uso o minimercado para comprar coisas pequenas para cozinhar, mas a diferença de preço é enorme. Alguns itens custam o dobro do que nos mercados maiores, como produtos de limpeza.
O analista financeiro Pedro Ximenes, de 25 anos, mora em um condomínio no Flamengo, na Zona Sul do Rio, que acaba de ganhar um mercadinho. Para ele, que trabalha em casa, os custos extras são compensados pela praticidade.
— Há uma diferença de preço em relação aos mercados convencionais. Mesmo assim, ainda vale a pena quando cruzamos as duas variáveis: o preço e comodidade.
Segundo Muniz, o próximo passo é tornar o processo de compra cada vez mais automatizado e seguro.
— Pretendemos identificar a pessoa na entrada, seja por QR Code ou por aplicativo no celular. O produto que está sendo retirado da prateleira também seria reconhecido de imediato, e o pagamento seria debitado direto no aplicativo no momento em que o item sai da loja. Assim, o usuário não precisaria fazer o pagamento manualmente — disse o empresário. (*Estagiária, sob a supervisão de Luciana Rodrigues)
Fonte: O Globo