Se tem um mercado que soube dar a volta por cima e fez a lição de casa direitinho foi o imobiliário. Medidas como a permissão para a continuidade das obras nos canteiros durante a pandemia, aplicação de tecnologia nos estandes de venda, registro online de contratos, entre outras soluções alçaram o segmento da construção civil ao posto de propulsor da retomada do crescimento no país.
Somado a isso estão a taxa de juros abaixo de dois dígitos e prazo de financiamento acima de 30 anos. Outro fator apontado por especialistas da área como determinante para validar o crescimento é a grande capacidade em absorver mão de obra.
Dados divulgados pela ABRAINC (Associação Brasileira de Incorporadoras Imobiliárias) mostram que as vendas de imóveis cresceram mais de 26% em 2020 – melhor resultado desde 2014, quando o setor registrou expansão.
Mas o que tem de novidade para atrair os clientes?
Critérios como localização e mobilidade, além de comodidade estão no topo da lista de desejos. Serviços pay per use (do inglês “pague pelo uso”), recreação infantil, espaços destinados a cuidados com animais domésticos (pet care), estação para carregamento de carros elétricos e até área de coworking são algumas das novidades.
No entanto, a pandemia alterou alguns anseios e provocou uma alteração nos padrões de compra dos consumidores. Se até o início de 2020 as unidades habitacionais batizadas de estúdios (com metragem média de 30m2 – em alguns casos exíguos 19 m2) eram a bola da vez, o home office mostrou que não é preciso necessariamente morar perto do trabalho. A partir daí o mercado voltou a valorizar imóveis maiores com metragens entre 60 e 120 m2.
Para Fernando Canato, diretor administrativo financeiro da ABADI (Associação Brasileira das Administradoras de Imóveis), “os novos empreendimentos têm acompanhado as tendências de percepção de valor pelos interessados quanto aos imóveis e seu uso no dia a dia”.
Para ele, o fato se comprova com a entrega das novas unidades com gama diversificada de serviços. “Dependendo da região e público alvo, isso se torna ainda mais assertivo conforme a demanda dos clientes, onde a contratação por parte dos consumidores de forma macro tem crescido bastante, mas não linear”, explica.
Tanto que a expectativa para o final deste ano é a melhor possível, nas palavras de Canato. “A pandemia provocou grandes mudanças nos hábitos das pessoas, as quais deram um valor ainda maior para sua moradia”.
Ele segue acrescentando: “essa descoberta provocou um aquecimento no mercado imobiliário. Com a entrada no quarto final do período pandêmico que vivemos, a tendência é de que o mercado siga em grande evolução para o próximo ano”.
Pay per use
Na visão do entrevistado, os empreendimentos de grande porte estão proporcionando ao mercado um novo modelo de serviços condominiais, com opções até então bastante utilizadas no setor hoteleiro. “Por exemplo: serviços de arrumação, limpeza, gastronomia, além de outros que também podem contribuir para uma redução de custos condominiais”.
Conhecidos como pay per use, essa opção está caindo no gosto dos consumidores pela praticidade proporcionada à rotina, com total comodidade e segurança. Baseada no conceito de compartilhamento, a modalidade também resulta em economia aos contratantes.
“A aderência aos serviços pay per use é uma tendência mundial, principalmente nas grandes metrópoles, onde são mais aceitos nos novos empreendimentos, não somente pela facilidade de preparo para implementação, mas também porque geralmente já estão contidos no conceito desde o lançamento”, enfatiza Canato.
No entanto, segundo o especialista, ainda há resistência em condomínios já em funcionamento. “Muitas vezes, por questões ligadas ao alto custo de adaptação para implantação e também a uma cultura pré-existente nos moradores, sem contar as dificuldades geralmente encontradas nos entraves das regras destes condomínios e na Convenção e complexidade de alteração”, diz. “Apesar destas barreiras, a aderência é crescente em todos os cenários. ”
Outro ponto destacado pelo diretor foi o crescimento da modalidade durante a pandemia. “Se pudermos dizer que houve coisa positiva, essa é uma delas. Ou seja, aprendemos, perdemos o medo e superamos a barreira em usarmos outras formas de serviços, que antes não pensávamos em usar”.
Para ele, as circunstâncias impostas levaram a busca de novas formas de consumo. “E o mesmo aconteceu com os prestadores de serviços. Todos se reinventaram, acelerando um processo que seria bem lento”.
Limpeza em destaque
Apontado como o mais procurado pelos condôminos, os serviços de limpeza nas áreas privativas apontam para aquecimento no pós-pandemia. “A demanda já existia antes, mas começou a ficar ainda maior, já que as modalidades de pagamentos são diversas, o que facilita a contratação dos serviços”, destaca Canato.
De acordo com ele, principalmente os novos empreendimentos têm proporcionado opções diversas para o contratante efetuar o pagamento dos serviços utilizados: junto ao boleto mensal, em pacotes pré-pagos, cartões de débito ou crédito e até PIX.
“As medidas de relaxamento da pandemia vêm demonstrando que o consumo e contratação desses serviços seguem em alta”, destaca ele, para prosseguir: “Segundo uma pesquisa global realizada pela PWC, inclusive no Brasil, as compras por celular já são o canal preferido dos consumidores – mais de 80% dos brasileiros dizem interagir com algumas das quatro principais plataformas digitais”.
Mas, apesar da grande oferta de serviços, limpeza e arrumação das unidades privativas devem seguir mesmo liderando a lista de contratações, acompanhada por serviços de manutenção, alimentação, transporte, além das opções ligadas à saúde e bem-estar.