Símbolos da retomada econômica que alavancou o Rio após décadas de estagnação, as torres comerciais multiplicaram-se pela cidade nos últimos cinco anos. Do Centro ao Recreio, foram lançadas no mercado 25 mil unidades, um salto impressionante de 350% se comparado ao período entre 2005 e 2009. No entanto, com a economia do país estagnada e à beira da recessão, o número de salas comerciais vazias alcançou um patamar recorde no Rio no fim do ano passado. Tanto que nos últimos doze meses a falta de interessados provocou um recuo de até 15% no valor médio dos aluguéis. A retração afetou de forma mais drástica aquelas regiões onde a expansão foi maior, como as avenidas Abelardo Bueno e Salvador Allende, na Barra.
Após o esgotamento de terrenos disponíveis na Avenida das Américas, essas duas vias foram alçadas a estrelas do mercado, transformando-se em novos eixos de crescimento da cidade. “Há um descompasso causado pela crescente oferta”, explica Leonardo Schneider, vice-presidente do Sindicato das Empresas de Habitação (Secovi-Rio). “Não existe demanda para absorver tantas salas, o que é agravado pelo quadro de retração econômica”, conclui. Se há cinco anos comprar uma sala comercial se mostrava um negócio seguro, com lucro garantido pelo eufórico mercado imobiliário carioca, agora a farra começa a mostrar seu preço.
Dono de seis lojas na Avenida Abelardo Bueno, o empresário Eduardo Machado espera pela chegada de inquilinos há cerca de um ano. Para ele, a quebradeira provocada pela duplicação da via e a construção do Parque Olímpico também contribuíram para afastar os locatários dali. Outro problema é o receio de que a mobilidade urbana piore naquela área. “Há um medo muito grande de que o Rio trave em meio a tantos congestionamentos”, acredita Bueno, para quem o cenário só deve melhorar após a conclusão das obras olímpicas, principalmente o BRT.
Como não se via fazia tempo, enfrentamos uma nova realidade no mercado imobiliário carioca. De acordo com os especialistas, a crise que teve início em 2014 deve perdurar até a Olimpíada. Na melhor das hipóteses, os valores dos aluguéis vão permanecer estagnados até lá. “Quem possui imóvel vai ter de investir na estrutura ou flexibilizar a negociação”, decreta João Paulo Rio Tinto, presidente da Associação de Dirigentes de Empresas do Mercado Imobiliário do Rio (Ademi).
Fonte: Veja Rio (20/2/15)