Mais do que driblar a desaceleração da economia brasileira, o ramo de atividades imobiliárias tem crescido com ela. A demanda de clientes que enfrentam dificuldades financeiras e buscam residências mais baratas fez crescer a intermediação de contratos de locação e também de compra e venda de imóveis usados.
De acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), o produto interno bruto (PIB) do setor de serviços encolheu 1,2% no primeiro trimestre, ante igual período de 2014. O subgrupo de atividades imobiliárias, porém, foi contra a corrente e cresceu 2,8%.
Tendo em vista que todas as operações de comercialização e locação geram receita às empresas de atividades imobiliárias, por meio de comissões, o cenário de desaceleração econômica é fator de aquecimento para o segmento.
“Se a pessoa perde o emprego, por exemplo, e tem que deixar o seu imóvel de lado e seguir para um mais barato em preço ou aluguel, nossos serviços são necessários”, destaca a vice-presidente da Câmara do Mercado Imobiliário de Minas Gerais (CMI), Cássia Ximenes.
O mesmo ocorre quando um mutuário não aguenta mais pagar as parcelas de um financiamento. Os interrnediadores geram receita prestando serviços tanto para a venda quanto para a compra de outro imóvel.
“A questão é: tem crise, vamos anotar o que o cliente necessita. Será que ele continua preparado para pagar o aluguel? Eu posso ajudá-lo a negociar com o atual proprietário ou com um novo? Esse é o papel real da intermediação”, diz Cássia.
Boa parte do resultado do ramo é devida à pujança do mercado de venda de usados e de locação. “No corpo geral, temos visto um movimento semelhante ao do ano passado e com expectativa de mercado ainda mais aquecido neste segundo trimestre”, diz o presidente do Conselho Regional de Corretores de Imóveis do Estado de São Paulo (Creci-SP), José Augusto Viana Neto.
No caso da locação, ao menos no Estado de São Paulo, a demanda tem se mantido nos últimos meses, conta Viana. Dos últimos novos contratos, aproximadamente 90% referem-se a imóveis deixados pelos antigos locatários no mesmo mês. “Há muita rotatividade”, afirma.
A necessidade de mão de obra para as próprias imobiliárias também reflete o crescimento do PIB do ramo. “O número de corretores de imóveis continua aumentando mês a mês”, aponta Viana. No primeiro trimestre, segundo levantamento do Creci-SP, foram registradas 3.676 novas inscrições de corretores de imóveis no Estado de São Paulo, aumento de 21% em relação a igual período de 2014.
Casa e descasa
Outro pilar da atividade de in-termediação imobiliária é o aumento natural de famílias no País, destaca Cássia, da CMI. Quanto mais casamentos acontecerem no ano, maior a demanda por imóveis, tanto na locação quanto na venda.
O mesmo ocorre no caso de divórcios, tendo em vista que, na maioria dos casos, pelo menos uma das partes terá que encontrar uma nova residência.
Segundo o IBGE, o número de casamentos aumentou 1,1% em 2013, último registro publicado, para 1,05 milhão. No caso dos divórcios, mesmo com queda de 4,9% em relação a 2012, o instituto apurou 324 mil separações.
Gestão de condomínios
A administração e a gestão de condomínios também tem sustentado o crescimento do NB das atividades imobiliárias. Principalmente devido à melhoria nas práticas de cobrança, que tem diminuído o principal inimigo do segmento, o calote.
“Muitas vezes percebe-se que é necessário uma cobrança mais contundente de um possível devedor crônico; como observa o vice-presidente do Sindicato da Habitação do Rio de Janeiro (Secovi Rio), Leonardo Conde Villar Schneider.
No Estado do Rio de Janeiro, a inadimplência tem apresentado resultados relevantes no curto prazo, entre 12% e 18%. Mas no longo prazo, que são as contas vencidas há 90 dias ou mais, o índice cai para entre 2% e 3%. “Apesar de um ligeiro aumento nos últimos meses, não chega a ser relevante. A interação dos gestores imobiliários e do síndico é fundamental para uma inadimplência controlada”, afirma.
Schneider aponta algumas estratégias adotadas por gestoras e administradoras para controlar receitas e gastos. “Um acompanhamento do orçamento de perto e agilidade para fazer uma alteração é importante para manter em dia as contas do condomínio. Muitas vezes uma redução de despesa ou o investimento em algum processo que possa gerar frutos positivos no futuro faz a diferença.”
Atividades
Segundo dados do IBGE, a produção de riqueza nacional no primeiro trimestre foi negativa em 1,6%. O setor de serviços não foi o único a pesar na atividade econômica do País. A indústria também gerou pressão para baixo, com recuo de 3%.
Prova disso são os resultados de pesquisas apresentados pela Confederação Nacional da Indústria (CNI). O índice de Utilização da Capacidade Instalada (UCI) de fevereiro, com 79.7%, por exemplo, atingiu o menor patamar da série histórica iniciada em fevereiro de 2009.
Em seu relatório referente a março, a entidade é direta em sua análise. “O desempenho da indústria no primeiro trimestre do ano foi negativo.” Como consequência, a demanda das companhias por logística caiu, tendo em vista a redução da produção industrial, já que as fábricas utilizaram bem menos suas capacidades instaladas.
Como reflexo, o segmento de serviços de transportes, armazenagem e correios produzir 3,6% a menos de riquezas, entre janeiro e o fim de março, em relação ao mesmo período de 2014. Ainda dentro do setor de serviços, o comércio apresentou a queda mais relevante, de 6%, pior resultado desde o primeiro trimestre de 2009, quando a variação foi negativa em 7,5%. As atividades de administração, saúde e educação públicas retraíram 1,4% e o PIB dos serviços financeiros recuou 0,4%.
Fonte: DCI (22/7/15)