Os cem condôminos de um prédio de classe média da Tijuca chegavam a ratear contas de água de R$ 20 mil,em meses de forte calor, o que pesava R$ 200 no orçamento de cada família. Em 2010, eles resolveram dar fim ao prejuízo coletivo e individualizaram a medição dos hidrômetros. “Agora, que cada um paga exatamente o que gasta, o consumo total não passa de R$ 6 mil”, aponta o síndico, Paulo Serafim Fernandes.
Com a crise hídrica que ligou o alerta dos estados do Sudeste nos últimos meses, as chances de poupar água — e dinheiro — têm levado cada vez mais prédios de Rio e São Paulo a seguirem o exemplo do Condomínio Milão. A procura aumentou de 50% a 60% nas duas capitais desde novembro, segundo levantamento da Ista Brasil, empresa de origem alemã e líder no mercado de hidrômetros.
Especialistas garantem que a medida gera economia de 30% a 40% no consumo. Isso porque cada um sente no bolso o peso do desperdício. “Quando a medição é coletiva, dificilmente existe o compromisso do uso racional, uma vez que a conta é dividida em partes iguais para os condôminos. Já com o relógio individual, cada um sabe que vai ter que pagar o que consumir”, ressalta o presidente do Conselho Estadual de Recursos Hídricos do Rio, Décio Tubbs.
Uma lei municipal de 2011 exige que todos os prédios construídos na cidade do Rio a partir daquele ano devem ser preparados para receber hidrômetros individuais. A regra já existia em Niterói desde 2006 para os novos projetos de edificações coletivas de uso residencial, comercial e misto, e em São Paulo, desde 2005.
O serviço ainda custa caro para os prédios que não foram preparados para receber medição per capita. Nesses casos, é necessário instalar pelo menos um aparelho por cômodo abastecido por água. Os preços para instalar cada hidrômetro variam de R$ 350 a R$ 650 em empresas consultadas pelo DIA no Rio.
E se a tubulação não for adequada, o custo com obras pode significar um aumento de até R$ 6 mil por apartamento, dependendo da complexidade do caso, de acordo com o sócio da empresa de engenharia AJ Martani, João Martani. “Qualquer prédio pode ter medição por cada unidade residencial. É só uma questão de fazer um estudo e a obra. É evidente que existem custos, mas eles são compensados pela economia que se obtém após a implantação”, diz ele.
Condôminos contratam empresa para a medição
Com o sistema de hidrômetros individuais, o condomínio contrata uma empresa para detalhar quanto cada unidade consumiu por mês. Como a medição é feita por rádio-frequência, o técnico não entra no apartamento. A Cedae só mede o relógio externo do prédio. A água de uso comum do é rateada entre os condôminos.
A professora Camila Rodrigues, moradora do Condomínio Milão, recebe a tarifa todo mês em sua unidade. Ela também tem a opção de consultar, em qualquer momento pela internet, o valor parcial da fatura. “No início, que a gente não era acostumada a regular quanto gastava, a conta vinha descontrolada. Cheguei a pagar R$ 200 no verão. Agora, já vem em torno de R$ 50”, diz ela, que mora com o marido e dois filhos.
A instalação dos hidrômetros foi parcelada em dez vezes e hoje os moradores pagam apenas R$ 10 mensais pela medição. O síndico, Paulo Serafim Fernandes, lembra que a redução de 30% no consumo foi sentida 40 dias após a instalação. “Outra vantagem é que a empresa que faz a medição informa os locais com vazamento”, acrescenta.
Cedae: custo em edifícios antigos é alto
Questionada se recomenda a instalação de hidrômetros individuais, a Cedae respondeu apenas que o alto custo do serviço em edifícios antigos é “praticamente como reconstruir o prédio”, o que inviabiliza o projeto em 99,9% das vezes.”
Coordenador do curso de especialização em Engenharia Sanitária e Ambiental da Uerj, Adacto Ottoni cobra políticas públicas que estimulem a população a implementar ações sustentáveis de racionamento, como incentivos fiscais no IPTU. “É uma questão de justiça social, pois impede que famílias que economizam ou gastam pouco tenham a mesma despesa daquelas que desperdiçam.”
O engenheiro João Martani criticou que a companhia não incentive a adoção da medida em um momento crítico para os recursos hídricos do estado. “Desde 2006, nossa empresa já instalou esse sistema em quase 400 condomínios do Rio de Janeiro, e a maior parte precisou de reforma hidráulica. A Cedae tem uma visão equivocada de medição individual e consumo. Ela só está preocupada em entregar água, recolher esgoto, quando recolhe, e cobrar”, disse ele.
Fonte: O Dia (31/1/15)