Não bastassem a alta dos juros e a exigência de entrada maior, quem planeja financiar um imóvel precisa ultrapassar um outro obstáculo: a renda mínima exigida pelos bancos na hora de conceder o empréstimo. Nas simulações feitas pelo “Globo” a renda exigida chega a ser seis vezes superior à primeira parcela do financiamento. É o caso do Bradesco, que pede renda de R$ 34 mil para financiar um imóvel de R$ 750 mil, cuja primeira prestação sai por R$ 5,1 mil. O banco explicou que o cálculo leva em consideração a progressão das parcelas na Tabela Price, em que o valor pago mensalmente é crescente, reajustado pela taxa referencial.
Já o Banco do Brasil informa que a análise varia muito, de acordo com o cliente. Dos seis bancos pesquisados apenas três já estimam, nos simuladores on-line, quanto o mutuário precisa ganhar mensalmente para ter o crédito aprovado: Bradesco, HSBC e Santander. Além do BB, a Caixa e o Itaú alegaram que a negociação é feita de acordo com o relacionamento do cliente com o banco. Todos aceitam a renda de mais de uma pessoa da família para chegar ao valor exigido.
Analistas temem um efeito colateral das restrições de crédito na Caixa. Em vez de estimular a concorrência, especialistas argumentam que o peso do banco estatal pode levar seus competidores a seguir a linha mais cautelosa, diante do risco de inadimplência, que aumenta num cenário de aumento do desemprego.
O peso de uma dívida de 30 anos sobre orçamentos já abalados pela inflação e pelo risco do desemprego é apontado por especialistas, corretores e consumidores como o principal entrave para uma reação do mercado, mesmo com estímulos do governo.
A crise já estimula parcerias entre imobiliárias e instituições financeiras. Para Mauro Calil, especialista em investimento, quem quiser evitar um financiamento desvantajoso pode optar por outras opções de poupança e garantir mais dinheiro para a entrada.
Fonte: O Globo (7/6/15)